O
que significa agir em “legítima defesa”? Será que é possível compreender essa
expressão partindo de um enfoque espiritual?
Em
seu artigo intitulado “Amai os vossos inimigos”, Mary Baker Eddy apresenta
algumas ponderações muito interessantes sobre esse assunto:
“Eu costumava pensar que bastava cumprir as leis de nosso país; que, se
um homem apontasse uma arma para meu coração, e se eu, atirando primeiro,
pudesse matá-lo e salvar minha própria vida, estaria agindo corretamente.” (Escritos diversos, p. 11)
Mais
adiante, ela nos mostra como seu pensamento progrediu na compreensão do papel
do Amor divino na defesa de nossos direitos espirituais:
“O
amor não proporciona justiça humana, mas sim misericórdia divina. Se nossa vida
estivesse sob ataque, e só pudéssemos salvá-la em conformidade com o direito
comum, tirando a vida de outra pessoa, acaso preferiríamos sacrificar a nossa
própria? Temos de amar nossos inimigos em todas as manifestações pelas quais e
nas quais amamos nossos amigos; precisamos até mesmo tentar não expor suas
falhas, mas sim lhes fazer o bem sempre que ocorra alguma oportunidade.”
(Escritos diversos, p. 11)
Essas
passagens me ajudaram compreender que a justiça e a lei divinas estão muito acima
das leis humanas que aprovam aquilo que usualmente chamamos de legitima defesa
– ou seja, de que, em determinadas circunstâncias, é permitido agredir ou até
matar outra pessoa em defesa própria.
Partindo
de um enfoque espiritual, Cristo Jesus nos apresentou uma outra maneira –
bastante radical – de compreender a ideia de legítima defesa. Seu pensamento
elevado, refletido em suas atitudes práticas, nos ensinam que mesmo que o
desejo de se defender de uma agressão utilizando atitudes violentas pareça ser
algo comum em nossa sociedade, podemos ter uma atitude diferente.
Cristo
Jesus demonstrou que os conceitos de amor e de legítima defesa podem andar de
mãos dadas! No momento de sua crucificação, ele se recusou a apelar para leis
humanas ou a se rebelar, mesmo estando certo de sua inocência. Mas tendo a
consciência de que o Amor divino é para todos, Jesus demonstrou que o direito
divino está muito além do mero viver ou morrer na matéria.
Foi
essa compreensão tão clara de seus direitos espirituais que permitiu que
demonstrasse, por meio de sua ressurreição, que a vida não está na matéria e
nem é de matéria, revelando que “... o ‘perfeito Amor’ que ‘lança fora o medo’
é uma defesa segura.” (Escritos Diversos, p. 229).
Ao
refletir sobre essa postura radical de Cristo Jesus, pude compreender que ele
demonstrou a única e verdadeira forma de legítima defesa. E nossa natureza
espiritual, como reflexos do Amor divino, permite-nos seguir seu exemplo em
nossa vida prática. Possibilita-nos viver essa atitude radical do bem, e
fundamentar nossas vidas e nossas relações com aqueles que nos cercam em um
comprometimento firme com a expressão do Amor divino.
Algum
tempo atrás, ao passar por desentendimentos com um vizinho que compartilhava
sua garagem comigo, tive a oportunidade de colocar em prática esse amor
incondicional do Cristo. Após algumas confusões a respeito do uso da garagem,
meu vizinho começou a apresentar um comportamento bastante alterado e agressivo
comigo.
Ora,
ninguém gosta de ser maltratado, e, é claro, eu não queria engolir sapos! Mas
nesse momento, ao invés de reagir e pagar “agressão com agressão”, senti que o
Cristo tocou minha consciência e me deu forças para responder com uma atitude
amorosa. De início não foi fácil, e eu tive de persistir no Amor durante meses.
Mas o resultado valeu a pena! Pouco a pouco meu vizinho começou a se acalmar, a
situação que envolvia o uso da garagem foi resolvida de maneira harmoniosa e
hoje sou muito grato por desfrutar de nossa amizade.
Essa
curta experiência me fez compreender que o Amor divino incondicional
manifestado por cada um de nós transcende as normas e conceitos de lei humanos.
Mesmo que de maneiras mais modestas, todos nós podemos refletir o mesmo amor
expresso por Cristo Jesus e amar o próximo como a nós mesmos. Ao demonstrar em
nossas próprias vidas essa compreensão mais elevada de legítima defesa, nós
reconhecemos que estamos unidos a Deus de maneira indissolúvel. Nunca estamos
vulneráveis ou indefesos. O nosso direito ao bem está legitimamente protegido
por meio do amor do Cristo. E ninguém pode ficar fora desse amor.
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